09.01.2012
Vôo Paris-Barcelona
Pequena crônica
Sub-Paris – as verdades inconvenientes da “Capital da Moda”.
Não se pode ver, do alto da Catedral de Notre Dame, o colorido contraditório de Paris. Não é de lá que enxergamos o pior e o melhor da cidade. As gárgulas, seres estranhos e macabros, não são tão assustadores quanto a visível exclusão do imigrante. Pretos, indianos, árabes, multi-línguas, multi-raças se percebem, de fato, lá embaixo, no submundo, no subsolo, no metrô. Em Notre Dame, as gárgulas comem impiedosamente bichos e frutas; nas ruas, pessoas são engolidas pela vida dura.
O metrô, estranha confusão de linhas e cores e números e interligações, abriga aqueles que, no alto da Catedral, no alto da Basílica, no alto da Torre, não têm vez. Curioso ver que aqueles que dão cor à cidade, aqueles que preenchem o vazio da capital da França são mal vistos, mal colocados, mal posicionados. Estão sempre à parte, separam-se da beleza, do glamour, do charme.
Se a previdência francesa quebra, culpa deles. Se no metrô os bancos são pixados, culpa deles. Se se corre o risco de assalto, culpa deles. Culpa deles? Quem visita Paris precisa rever o conceito da cidade, deve reparar que, evidentemente, os coloridos levantam a cidade e chamam mais atenção do que as luzes da Torre Eiffel.
O comércio francês fecha aos domingos, fecha pro almoço, fecha pra não-sei-mais-o-quê. Se a um parisiense falta papel higiênico ou cenoura ou carne ou não-importa-o-quê no final de semana, é à quitanda do árabe que ele se dirige, é ao restaurante indiano, é por um negro africano que ele é atendido no Mc Donalds.
O metrô, o subúrbio, o verdadeiro comércio, a verdadeira vida fervem em Paris africanamente, indianamente, muçulmanamente. Francesamente, ignoramos tal fervor.
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